quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A nova carona verde


O transporte coletivo no Brasil não é, aparentemente, prioridade de nenhum político. Afinal, para que investir em metrô, trens e ônibus "verdes" se o lobby (e o bolso) das montadoras e construtoras de rodovias é tão grande mesmo, não é?

Esse problema gerou no país serviços de ônibus fretados e transporte coletivo clandestino, além de deixar milhões e milhões de coitados indo todo dia para o trabalho a pé. Os Estados Unidos, que tem no cerne do sonho americano a liberdade provocada por um carro, também padece desse mal.

Tirando os grandes centros, a locomoção pública, quando existe, deixa muito a desejar. Lembro uma vez quando quis me mandar de Washington D.C. para uma cidadezinha da Virginia para descansar sozinha por três dias. Meu marido me levou. Quase três horas de carro. Tentei, em vão, descobrir se havia um serviço de ônibus para me levar de volta a Washington. Pesquisei na Internet, perguntei no hotel quando cheguei, mas nada, não havia nem um Greyhound vagabundo pra me levar de volta.

Uma boa ideia que acabou sendo transformada em negócio saiu da cabeça de um jovem executivo do banco Lehmann Brothers (sim, aquele que ajudou a derreter o sistema financeiro global em 11 de setembro de 2008 ao ir à falência). Ao perder o emprego, ele decidiu criar o Zimride, serviço de carona ativado por redes sociais como o Facebook que serve para conectar pessoas para universidades e grandes empresas. Contratos com grandes universidades como Cornell e Harvard começaram a fazer essa rede dar certo, e hoje ela envolve, de forma semipública, a milhares de pessoas que se juntam para chegar de um ponto a outro dividindo um carro todos os dias. Matéria que saiu hoje na Reuters explica.

domingo, 12 de setembro de 2010

Dá para ter tudo?


Vida louca, essa a das mulheres de hoje. Acho que não dá para ter tudo, pelo menos não sem deixar algo para trás, nem que seja ela própria, ou a carreira, ou o prazer de ver os filhos crescerem de perto, ou o romance com a cara-metade.
Mas talvez desse pra conciliar todas as esferas da vida se fizéssemos menos de tudo, não? A parcela mais difícil é o mercado de trabalho, os contratos fixos, a cultura dos escritórios. Tudo isso, se relativizado, reinventado e customizado, poderia revolucionar a produtividade e o próprio conceito do que temos para carreira e trabalho. É o que o um novo livro gringo chama de "custom-fit work". Dá uma olhada neste blog bacana sobre mães e carreira, que aborda detalhes sobre a obra. E agradeço à querida amiga Nomi, de Washington, pela dica.

A importância cotidiana do belo


Passei correndinho aqui só pra dizer que outro dia conheci uma ilustradora muito legal, a Luli Penna. Conversamos bastante numa festa, e hoje me deparei com seu blog. Já tinha visto algumas de suas ilustrações na Folha, mas fiquei encantada ao ver as imagens reunidas. Juntas, formam um sentido, uma história, um olhar de mundo delicado, leve e bem humorado.
Nada como ver algo bonito para refrescar a alma num domingão à noite, não é mesmo?






Imagem: blog de Luli Penna (ilustração para Folha de S.Paulo)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crianças-Espetáculo?


Tem certas coisas que eu não entendo. Os canais a cabo infantis no Brasil terem publicidade, por exemplo. Já não basta o que ganham com licenciamentos?
Me pergunto que tipo de pessoinhas andamos criando com a babá eletrônica... Pelo que vi, só crianças com ânsia de virar celebridade.
Propaganda de marca de roupa infantil? Meninas com microfone dançando em cima do palco. Desfile de moda com modelos mirins. Promoção do canal gringo? Menina usando escova como microfone, cantando e dançando em cima da cama e sonhando ganhar um concurso de apresentadora para terminar um dia... em cima de um palco.
Isso significa que não estar em cima do palco (ou ser popular) é ser otário? Que profissões normais não valem a pena?
Nesse novo mundo imagético, criança não fica triste. Vive num supostamente alegre e perene frenesi.
Lembro quando eu era criança. Eu podia ver toda a televisão que eu queria. Mas eu detestava. Meus pais se mudaram para o Brasil quando eu tinha cinco anos.
Eles trabalhavam muito, chegavam tarde, e eu ficava basicamente sozinha, com a tevê ligada. A noite chegava, as novelas começavam, e meu pânico de meus pais nunca mais voltarem para casa se renovava. O que eu faria se eles não voltassem? Eu já não os tinha , e meus avós, meus tios, minhas queridas primas, todos tinham ficado para trás, arrancados de mim pela distância.
Meus pais devem ter deixado alguém pra cuidar de mim, alguma empregada, mas sinceramente não lembro. Lembro só da tevê, da entediante propaganda eleitoral gratuita, com os candidatos exibindo aquelas fotos horrendas em preto e branco. Era o final da década de 70. Lembro de ir para a sala com uma minicanequinha de cerveja bege, daquelas que distribuem na Oktoberfest. Lá dentro havia várias pulseirinhas com bolinhas coloridas entremeadas por uma correntinha dourada.
Era moda usá-las todas juntas, cada uma de uma cor, em uma das mãos. E eu ficava olhando para a tevê e para as pulseiras, por horas. Verde, vermelha, azul. O cheiro da corrente de metal barato da pulseira, que ao roçar os dedos, contaminava a mão. Horas que não passavam.
Aquela tela ligada de onde saíam palavras estranhas, testemunhas da minha enorme, catastrófica, solidão.
Naquela época não tinha propaganda de meninas com menos de dez anos dançando em cima dos palcos, sendo lindas, e famosas e felizes. Pelo menos dessa pressão horrível eu escapei. E a minha filha, escapará?