segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A musa e a guerrilheira


Então tá, a trança da bela e jovem esposa do vice-presidente Michel Temer agora virou mania nos salões de beleza do Brasil afora... Já imaginava algo assim. Era impossível mesmo que sua aparência passasse despercebida durante a posse. O cabelo recolhido, o rosto harmônico, e até a roupa (decotada demais para a ocasião, teria dito Costanza Pascolato) transformaram Marcela Temer, 27 anos, em celebridade instantânea.
Os homens a desejam, as mulheres a emulam. Como deusa grega em dia de posse presidencial ou rainha de bateria do Carnaval, deve ser bom demais ser musa. E eu me perguntava, o que faz essa mulher do lado de um homem tão mais velho? Será amor? Será o fascínio que o poder exerce? Será a proteção quase paternal que um homem mais experiente oferece a uma mulher jovem?
Já li que, fisiologicamente, por assim dizer, mulheres jovens combinam muito bem com homens mais velhos. E o mesmo pode ser dito de mulheres mais maduras com rapazes bem jovens.
Ela exerceu seu poder de fascínio sobre todos, mas não o capitalizou (ainda...) e nem sabemos se o fará, pois pareceu se moça bastante discreta.
Então a musa encanta, mas de que lhe serve isso? Que coisa mas sem graça ser apenas admirada, passivamente adorada, por mais que isso traga benefícios. Melhor ir conquistar o mundo, ou o poder de fato, como fez a ex-guerrilheira. Resta a ela provar do que é feita. E a que veio. Porque a musa vive no mundo da idealização, do sonho e do desejo. A outra, da (quase sempre) dura realidade.

Imagem: divulgação da Agência Brasil

sábado, 15 de janeiro de 2011

Hillary, a Nasa e a conquista do (seu) espaço


Lembrei outro dia de uma história que ficou gravada na minha memória na época em que eu era correspondente em Washington e cobria a eleição presidencial que elegeu o democrata Barack Obama à presidência dos Estados Unidos.
Quando começaram a sair os primeiros perfis dos candidatos, todos tinham umas biografias pra lá de interessantes. Mas uma das revistas semanais me chamou a atenção ao publicar um texto sobre Hillary Clinton, atual secretária de Estado norte-americana.
O jornalista contava que quando ela tinha uns 8 ou 9 anos, queria ser astronauta, então mandou uma carta para a NASA perguntando quais passos ela tinha que seguir para realizar seu sonho.
Ela esperou, esperou e esperou. Algum tempo depois, recebeu a resposta, também por carta. Ansiosa, abriu o envelope. Agradeciam seu interesse pelo fascinante mundo das viagens espaciais, mas respondiam que, naquele país, mulheres não podiam ser astronautas. Era a década de 1950.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Papai Noel ou a exuberância irracional


Ho-ho-ho. Este ano me defrontei com uma realidade inesperada: o excesso. A quantidade de presentes que minha filha ganhou da família, e o frenesi que isso gerou entre todos, me deixou, para dizer o mínimo, envergonhada.
Aconteceu a mesma coisa em seu último aniversário. Como ela vai saber dar valor às coisas, se tudo lhe chega de mão beijada, e aos montes?
É difícil para mim, que tive uma vida infantil bacana, porém mais simples (vamos lá, eu usava tênis Bamba no ginásio), encarar essa vida de fartura sem fim...
Resultado da lambança: dezenas de caixas e embrulhos, várias bonecas, carrinhos, jogos de panelinha, roupas, afe, tanta coisa...
E no dia seguinte, qual o brinquedo predileto da fofa? A chupeta da boneca velha, e fazer "comidinha" na parede, elaborando comida imaginária para todos degustarem. Enfim, algo parece não estar certo em tudo isso. Deu uma certa ressaca.

Agora só me resta:

*reciclar os brinquedos, doando os antigos.
*aprender com minha amiga Lilian, que nos aniversários guarda os presentes e só vai dando-os `a filha aos poucos.
*pensar em embrulhos reutilizáveis (de pano?) toda a vez que for dar presente. Ou, como minha avó Paca sempre fez, guardar os mais bonitos que receber para embrulhar outras coisas. (Em tempo: quando eu era pequena, lembro que minha avó lavava sacos plásticos e os pendurava no varal do quintal --bom, naquela época o leite chegava em garrafa, de carroça puxada por cavalos, e era muito mais gostoso.
Não, ela não morava em Cuba, mas sofreu as consequências de duas guerras, uma direta, outra indireta: a Espanhola e a 2a Guerra Mundial. Havia uma certa ética na preservação das coisas que eram suas, uma espécie de respeito a seu passado de privações. Hoje, nem ela faz mais isso. Tem algo muito errado nessa exuberância irracional consumista.

*Docinho fofo da ObaGastronomia

domingo, 2 de janeiro de 2011

Minha filha e o cocô: uma paixão inconveniente


Sempre achei curiosas as pessoas que têm um apego carinhoso, digamos assim, com seus excrementos diários. Sabe aquela gente que adora dizer: "Ai, hoje fiz um cocô lindo!" e é capaz de discorrer horas sobre cores, formatos, impacto da coisa na água, enfim...
Pois bem, passei a tomar mais consciência sobre o cocô depois que minha filha nasceu -- e perdi totalmente o pudor sobre o tema.
Trocar fraldas não é a tarefa mais agradável do mundo, ainda mais quando você não encontra fraldas descartáveis recicláveis sem gerar ao menos uns 100 anos de castigo ambiental (HELLO, PROCTER AND GAMBLE, tá na hora de colocar esses cientistas pra trabalhar!!!).
Nesse aspecto, eu e outras mães que trabalham ou que simplesmente tiveram preguiça de tentar usar fraldas de pano, estão condenadas ao fogo eterno do inferno ecologicamente incorreto, junto com aqueles que continuam, sem culpa, usando saquinhos de plástico no supermercado (eu, eu, eu, que sempre esqueço das minhas 3 sacolas de pano!).
Mas algo totalmente inesperado está acontecendo no roteiro do cocô. Minha filha está com dois anos, ainda resiste a tirar a fralda, não acha legal sentar no penico, ou no redutor de assento sanitário e, ultimamente, começou a resistir que troquemos seu cocô inteiramente.
Comprei livrinhos, ensinei a dar descarga, fazemos sessões conjuntas de dar "tchau" pro cocô no vaso. E nada. A menina continua apaixonada por sua produção diária.
Ela se esconde num cantinho para fazer a coisa, normal né?, e depois que um certo aroma invade a casa sabemos que ela já terminou. Mas nos últimos tempos, não adianta falar, brincar, sugerir: tenho que correr atrás dela para trocar a tal da fralda, sob protestos.

Juro (suspiro...) que isso realmente não estava no script.

Minha estratégia agora vai ser:

*Comprar fraldas de pano, tentando uma transição amigável para as calcinhas. As da Mamãe Natureza parecem bem legais. Se as tivesse descoberto antes, teria experimentado. Quem sabe ela não passa a se incomodar em ficar molhada com xixi, e isso gera uma mudança total? (a esperança é a última que morre). Alguma outra ideia?

*Ainda falando de dejetos, li uma informação muito bacana e importante na revista Casa Cláudia. O Grupo Pão de Açúcar e a redeEurofarma recolherão remédios fora de uso em cinco lojas e supermercados. Em 2011, diz a revista, o projeto atingirá 154 drogarias no país. Info no 0800 7732732. Em tempo: jogar remédios pelo vaso sanitário é uma péssima ideia, pois polui a água e deixa rastros. Jogar os potes cheios no lixo envolve riscos também. Então, como o óleo de cozinha e as pilhas e baterias, melhor levar ao lugar certo.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Dilma, a tia Mary e as mulheres do echarpe


Esqueça escolhas ideológicas ao menos um instante. Eu como cidadã brasileira importada (nasci ali embaixo, no Uruguay), estou muito, muito feliz porque uma representante do sexo feminino assume hoje a presidência do Brasil.
Espero que ela consiga governar sendo durona, mas sem virar "macho" como Tatcher e Merkel, e muito menos como a perua ensandecida da Cristina Kirchner.
Espero que consiga resistir `a loucura de seus hormônios para tomar decisões bem pensadas -- já que da sedução do poder estou convencida de que é impossível fugir -- e, sobretudo, espero que ela queira melhorar a vida das pessoas pobres, honestas e trabalhadoras do Brasil (as outras se viram).
Quando penso em que tipo de mulher ela é, lembro-me imediatamente da minha tia Mary, advogada, batalhadora incansável, leoa mãe de três meninas, agora já mulheres de vida feita. Ambas, Dilma e minha tia, são fruto das utopias e lutas da geração de 1968 (embora minha tia nunca tenha militado politicamente).
Ambas, em algum momento, imagino eu, sentiram aquela raiva de injustiças no estômago e, a seu modo, decidiram lutar por um mundo melhor (no caso da minha tia, dedicando a vida à Defensoria Pública para a família e a infância em Montevideo).
Ambas estão entrando no chamado mundo da terceira idade com muito pique e garra. E continuam desejando. Eu, que sou fruto da geração X e paguei o pato econômico de excessos daquela época (alguém se lembra da crise dos 80, do Reagan, da Guerra das Malvinas, da hiperinflação, da Guerra Fria, e daqueles malditos planos econômicos?), sou uma cínica realista que se achou no mundo depois de ler Focault.
Sou otimista, sim, mas não como elas, essas mulheres que minha tia define como as que amam echarpes e brincos étnicos. E são exatamente iguais ao redor do mundo. E pensam as mesmas coisas ao redor do mundo.
Tipo Joan Baez, manja? Eu tenho um lado gabeira, hippie, mas tudo o que vi e li no mundo não me permite ter esse entusiasmo cego de que tudo pode mudar para melhor de verdade, a fundo, radicalmente. Espero, sinceramente, que Dilma me convença do contrário.