sábado, 1 de janeiro de 2011

Dilma, a tia Mary e as mulheres do echarpe


Esqueça escolhas ideológicas ao menos um instante. Eu como cidadã brasileira importada (nasci ali embaixo, no Uruguay), estou muito, muito feliz porque uma representante do sexo feminino assume hoje a presidência do Brasil.
Espero que ela consiga governar sendo durona, mas sem virar "macho" como Tatcher e Merkel, e muito menos como a perua ensandecida da Cristina Kirchner.
Espero que consiga resistir `a loucura de seus hormônios para tomar decisões bem pensadas -- já que da sedução do poder estou convencida de que é impossível fugir -- e, sobretudo, espero que ela queira melhorar a vida das pessoas pobres, honestas e trabalhadoras do Brasil (as outras se viram).
Quando penso em que tipo de mulher ela é, lembro-me imediatamente da minha tia Mary, advogada, batalhadora incansável, leoa mãe de três meninas, agora já mulheres de vida feita. Ambas, Dilma e minha tia, são fruto das utopias e lutas da geração de 1968 (embora minha tia nunca tenha militado politicamente).
Ambas, em algum momento, imagino eu, sentiram aquela raiva de injustiças no estômago e, a seu modo, decidiram lutar por um mundo melhor (no caso da minha tia, dedicando a vida à Defensoria Pública para a família e a infância em Montevideo).
Ambas estão entrando no chamado mundo da terceira idade com muito pique e garra. E continuam desejando. Eu, que sou fruto da geração X e paguei o pato econômico de excessos daquela época (alguém se lembra da crise dos 80, do Reagan, da Guerra das Malvinas, da hiperinflação, da Guerra Fria, e daqueles malditos planos econômicos?), sou uma cínica realista que se achou no mundo depois de ler Focault.
Sou otimista, sim, mas não como elas, essas mulheres que minha tia define como as que amam echarpes e brincos étnicos. E são exatamente iguais ao redor do mundo. E pensam as mesmas coisas ao redor do mundo.
Tipo Joan Baez, manja? Eu tenho um lado gabeira, hippie, mas tudo o que vi e li no mundo não me permite ter esse entusiasmo cego de que tudo pode mudar para melhor de verdade, a fundo, radicalmente. Espero, sinceramente, que Dilma me convença do contrário.

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